Carlos Henrique da SILVA, o Alagoano tem nome de nordestino, nome de brasileiro, nascido dia dezenove de abril de um mil novecentos e setenta e nove
em São José da Laje – Alagoas. Filho de uma batalhadora analfabeta, passou por algumas dificuldades (inclusive a fome, desnutrição), mas com toda sua história de vida não perde o sorriso no rosto.
O Alagoano com 31 anos parece ter passado por tantas situações em sua vida, que a cada ano que diz ter vivido corresponde a uns 10 anos a mais que a vida de uma pessoa normal (a rotina em nosso cotidiano nos prende, e não paramos para pensar que a vida passa, o tempo é curto, as situações não voltam), são experiências que seriam tristes se não fosse cômico ou vice e versa.
Essa é uma história para aprendemos a dar valor, crescer, sabermos a viver mesmo de maneira simples, intensamente.
DE ONDE VEIO
Como falar de Carlos Henrique da Silva se antes não falar do nordeste, aquela terra de famílias grandes (grandes em quantidade de filhos, grandes na luta pela sobrevivência, grandes a forma em encarar a vida, mesmo com dificuldades sempre com o sorriso no rosto, com uma piada na ponta da língua em qualquer situação).
Mas quais a diferenças e as semelhanças entre alagoanos, baianos, cearenses, maranhenses, paraibanos, pernambucanos, piauienses, rio norte grossense, sergipanos? As diferenças eu não sei dizer, agora aquela cabecinha chata se reconhece de longe.... É “sabido” que aquela cabecinha chata é de carregar galões imensos com água nas cabeças.
Há nordeste local de belezas naturais sem igual, povo hospitaleiro, batalhadores, com um estado de humor que apenas (Chico Anysio, Tom Cavalcante, Tiririca, Falcão, DIDI MOCÓ e não tão famoso assim – mas tão humorado quanto Carlinhos Alagoano) sabem como ninguém a arte de fazer sorrir, pois só aquele sotaque é engraçadíssimo por si só. Que por outro lado o agreste e o sertão, devassa aqueles rosto com rugas ou marcas da vida registradas em seu corpo. Nordestino que labuta naquela terra castigada pela seca, que a sua aparência cansada e doente, pele fosca, cabelos claros (por causa da desnutrição), fala confusa, não os impedem de sorrir.
Carlos Henrique (Carlinhos) veio de lá, um típico nordestino, cabeça chata, alagoano, um metro e meio de altura, valente como um cão, cabra macho, porreta da porra, arretado, que tem um sorriso e um jeito de levar a vida que só um nordestino tem.
Se entrássemos dentro do coração do Alagoano íamos ver que em seu peito bate um poema do grande poeta Gonçalves Dias:
“Minha terra tem palmeiras,
onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá”.
Que falta faz a Alagoas, terra de onde brotou Carlinhos. Se aquela terra tivesse a metade das oportunidades que o Paraná tem, se o canto do sabiá de lá fosse iguais os daqui, talvez aquele alagoano tivesse ainda mais motivo para sorrir e nos divertir. Carlinhos tem um sonho em seu coração, mesmo daquele grande poeta Gonçalves Dias:
“Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu`inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá”.
PAI
Carlinhos chama de pai o padrasto, que foi a figura de homem em que pode se espelhar, o padrasto foi parceiro e muito mais que um pai, lhe mostrou de certa forma algo sobre o mecanismo da vida.
Já o pai real separou-se muito cedo de sua mãe, certa vez “sequestrou” Carlinhos com 3 para 4 anos. Dizia que iria o criar o levando dos braços da mãe. O Alagoano devia ser a “peste” como o “cão”, desde essa época. São os primeiros registro que aquele garoto tem das grandes história que passou. Uma semana, esse foi o tempo para que seu pai o devolvesse para a mãe, dizendo que nunca mais queria o ver na vida.
Reza a história que pai é aquele quem cria, é aquele que orienta, que está ao lado nas dificuldades, que tem amor incondicional, que respeita. O Alagoano foi conhecer seu verdadeiro pai com 25 anos, mas nunca tiveram uma relação. Da mesma forma Carlinhos é pai de um menino de 11 anos, chamado Paulo Henrique fruto de um relacionamento anterior e não tem muito contato, pois o menino mora em Alagoas com a mãe e a avó materna. O “Bunequinho” (Paulo Henrique) é lembrado com carinho, mesmo não tendo a presença física com seu filho é em suas orações recorda e no sonho de um dia poder recuperar o tempo perdido.
IRMÃOS
Dá para acreditar em 25 irmãos, o alagoano tem 3 irmãos do mesmo pai e mãe e o restante da prole espalhados pelo nordeste.
Carlinhos teve um irmão com deficiência, ele conta que a criança não tinha a estrutura do pescoço (típico caso de paralisia infantil). Este irmão faleceu ainda quando Carlos era criança, hoje um mora em Alagoas com a mãe e ele e mais um irmão moram em Sarandi.
MÃE
Filho de mãe analfabeta, Carlos faz dos ensinamentos da mãe grandes lições de vida. Isso também o faz buscar aprendizado, pois conhece de perto a situação de uma pessoa sem estudo.
Sua mãe apesar de não conhecer as letras, Carlos diz que não existe no mundo pessoa com maior educação e disposta a ajudar outros (uma educadora pelas experiências da vida).
É a mãe que todos os finais de semana fala com o filho pela internet, preocupada como estão as coisas. Carlos lembra que os seus primeiros namoros era sua mãe que “ajeitava” as amigas para ficar com o menino.
SEXO
Iniciou sua vida sexual muito cedo, com muitos casos. Diz já ter passado de 100 casos amorosos (isso porque é um menino muito bonito). Foi com 13 anos que seu padrasto lhe deu 5 Cruzeiros para perder a virgindade com uma meretriz.
Tudo combinado com a moça foram para um canavial e começaram a fazer sexo, Carlinhos era acostumado a assistir filmes pornográficos ficava gemendo como nos filmes e a moça pensando que ele estava sentindo alguma dor (parou por várias vezes preocupada se o garoto estava bem). Chegado a hora de pagar, a moça foi se lavar no corguinho, o Alagoano saiu correndo com o dinheiro e deixou a moça a ver navios. Não passado muito tempo a moça foi bater na porta de sua casa para cobrar o dinheiro de seu pai.
Nessa época Carlinhos carregava os produtos comprados na feira em um carrinho que fedia peixe podre. Um de seus principais clientes era o dono do cinema, que liberava a entrada dele nas seções. Geralmente a segunda seção era filme para adultos, Carlinhos costumava a se esconder no banheiro, e o pessoal falava que havia criança escondida (mas havia um acordo nos serviços de frete da feira para liberação das entradas). Ao apagar das luzes Carlinhos e seus amigos arrumavam um canto para assistirem filmes adultos e chegavam a “lambuzar os bancos com os filmes”.
Aos 17 anos ele e seus dois irmãos saíram para os canaviais para trabalhar. Havia um amiguinho “viadinho” que gostava de ir junto. Diz a história que Carlinhos era o capataz e ficava organizando a zona. Formava-se uma fila de aproximadamente 15 pessoas na frente e 15 pessoas atrás do “viadinho”. A parte de trás era para comer e os da frente era para o menino chupar. Os irmãos participavam da orgia, já ele só “organizava a zona”.
Carlinhos feio que só diz ter ficado com algumas primas e foi amasiado 4 vezes, uma delas com a mãe de seu filho. Diz ter encontrado neste ultimo relacionamento com Karla o verdadeiro amor, que o completa em diversos aspectos. Ela quem sustenta a casa temporariamente, cuida da casa e da comida. Fala que nunca irá separar (Vai saber se ele tem sorte de encontrar 2 anjos na terra).
Em sua região não há frescura, todo mundo é igual a tatu, vive correndo atrás de um buraco. Conta a história de uma ex ter roubado sua cueca usada só para ficar sentindo seu cheiro. Ele e seus amigos apostavam quem pegava mais menina principalmente na festa de São José. Certa fez acordou todo sujo por ter rolado no ralo e rola com as meninas nos pastos bêbado.
TRABALHO
Desde os 12 anos o Alagoano já trabalhava, a principio tratando de animais da propriedade de seu padrasto. Foi carregador de produtos da feira, foi guia turístico onde as pessoas o procuravam para fretar ônibus e passar feriados nas praias. Sua principal profissão ainda hoje é soldador, mesmo que da sua amada Karla.
Nas diversas situações vividas, Carlos conheceu um tal de técnico de segurança do trabalho que não faz “porra nenhuma” e fica criticando o serviço dos outros. Cismado com isso decidiu fazer o curso, estagia no frangos canção na área de segurança. E conta o tão diferente que é o aspecto de segurança do trabalho no nordeste para a região sul.
AMORES
O irmão, Jair, Brinco, Edineide, Lucrecia, Willians – todos nordestinos que lutam pela uma vida melhor moram em Sarandi e são parceiros inseparáveis. Essas pessoas foram padrinhos do casamento no Civil entre Carlos e Karla.
Karla seu grande amor, diz que sem ela, ele não é nada. Para onde vai a mulher tem que estar do lado.
Nasceu flamenguista, mas ao ver o Corinthians da época do jogador Viola jogar mudou de time e hoje bate em seu peito a paixão corinthiana.
Ele acredita ter muita capacidade, e pra piada o cara é muito bom, diz que as pessoas podem conhecer e ler muito mais que ele em diversos aspectos, mas ele é o campeão em leitura de contos eróticos.
Quer ser técnico de segurança para ver os outros trabalhar, e cuidar de sua segurança.
CONCLUSÃO
É uma história de luta, aventura, superação. A busca da pessoa por aprendizado o faz crescer em diferente níveis:
- Social – Ciclo de amizades;
- Relacionamento – Aprender a conviver com pessoas;
- Profissional – Oportunidades melhores de serviço e remuneração;
- Psicológico – Ter mais confiança.
Carlinhos apesar de ter passado por dificuldades não deixa de viver intensamente cada situação. E a alegria e malicia de encarar a vida são diferenciais para fazer merecedor dessa pequena homenagem.